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Autor
Anderson Silva
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Anderson Silva

Abordagens em Conflito: O Debate sobre os Métodos Diretivo e Não-Diretivo no Aconselhamento Pastoral

Publicado em: 09/10/2025 às 16:46

Última atualização: 09/10/2025 às 19:39

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Análise confronta o Aconselhamento Bíblico Noutético de Jay Adams com a Abordagem Centrada na Pessoa de Carl R. Rogers, destacando riscos e benefícios de cada método.

A prática do cuidado pastoral se depara com uma tensão fundamental entre duas visões opostas: o método diretivo, que utiliza a Bíblia de forma confrontadora para orientar a mudança, e o método não-diretivo, que se baseia na escuta, empatia e aceitação incondicional. Enquanto a primeira abordagem corre o risco de gerar dependência e julgamento, a segunda, mesmo vinda de um contexto secular, pode oferecer um ambiente mais seguro para a manifestação da graça. Este artigo é um trabalho acadêmico de Anderson Luiz da Silva, estudante da Faculdade de Teologia de São Paulo, que obteve nota máxima e agora é apresentado para um público mais amplo.


 

Imagem gerado por inteligência artificial.

INTRODUÇÃO

A disciplina de Teologia e Prática Pastoral nos confronta com uma das mais significativas tensões no cuidado com o aconselhamento pastoral: a diferença fundamental entre o método diretivo e o método não-diretivo de aconselhamento. De um lado, temos Jay Adams e seu Aconselhamento Bíblico Noutético, que defende o uso direto e confrontador da Bíblia como a única ferramenta para a cura. Do outro, a Abordagem Centrada na Pessoa de Carl R. Rogers, que, apesar de sua formação teológica, propõe um caminho de escuta, empatia e aceitação incondicional, capacitando o indivíduo a encontrar suas próprias soluções.

Embora ambas as abordagens busquem o bem-estar do aconselhado, o antagonismo entre elas é notável, levantando questões cruciais sobre a eficácia, os riscos e a própria natureza da ajuda pastoral. Este texto aprofundará as críticas ao método diretivo, argumentando que ele pode inadvertidamente gerar dependência, sufocar a comunicação e expor o aconselhado a riscos de manipulação e julgamento, em contraste com a abordagem não-diretiva que, mesmo que neste caso seja vindo de um contexto secular, pode oferecer um ambiente mais seguro e propício para que a graça de Deus opere na vida das pessoas.

1. DESENVOLVIMENTO

A disciplina de Teologia e Prática Pastoral nos apresenta duas visões opostas sobre o aconselhamento: o método diretivo e o método não-diretivo.

Jay Adams com seu Aconselhamento Bíblico Noutético, utilizando o método diretivo. Segundo ele o conselheiro deve utilizar a bíblia para confrontar o pecado do aconselhado e orientá-lo diretamente a uma mudança de comportamento. A ênfase está na responsabilidade pessoal e no arrependimento como caminho para a cura.

Já Carl R. Rogers com a Abordagem Centrada na Pessoa, utilizando o método não-diretivo. Segundo ele o conselheiro é um facilitador que cria um ambiente de empatia e aceitação, permitindo que o indivíduo encontre suas próprias soluções. A ênfase está no potencial de crescimento inerente à pessoa.

Embora Rogers tenha estudado teologia e muitos acreditem que seus princípios tenham raízes no pensamento bíblico-cristão, sua metodologia conflita diretamente com a de Adams, especialmente no que tange ao uso do método diretivo. A análise dos problemas inerentes ao aconselhamento diretivo revela por que a perspectiva de Rogers, mesmo não-diretiva, oferece um caminho mais seguro e eficaz para a prática pastoral.

Jay Adams defende que o aconselhamento pastoral deve ser exclusivamente bíblico e utilizar um método diretivo, baseado nas ideias de responsabilidade e confrontação. Em sua visão, a Bíblia é o “Padrão de toda a fé e prática” e é “suficientemente capaz de lidar com todos os problemas humanos”, dispensando a necessidade de qualquer outra ciência, como a psicologia. Ele sustenta que os problemas emocionais são, na verdade, “consequências do pecado e da resistência aos princípios divinos”, e a cura se dá através da confissão e do arrependimento.

 

Ainda segundo os estudos da disciplina de Teologia e Prática Pastoral:

A Bíblia, na compreensão de Adams, ‘é inerrante como Padrão de toda a fé e prática’. Seu aconselhamento foi totalmente arquitetado a partir das Escrituras, e somente nas Escrituras. Para ele, a Bíblia é ampla e suficientemente capaz de lidar com todos os problemas humanos, o que dispensa o uso de qualquer teoria psicológica ou contribuição de qualquer tipo de ciência. (SILVA e SOARES, 2025, p. 137)

 

Jay Adams afirma em seu livro Conselheiro Capaz que:

(…) Absorvi-me no projeto de desenvolver o aconselhamento de acordo com as Escrituras, e desenterrei o que considero um bom apanhado de importantes princípios bíblicos. É surpreendente ver o quanto a Bíblia tem a dizer sobre aconselhamento. (…) Ficou demonstrada a total fidedignidade da Escritura em sua maneira de lidar com os seres humanos. (Adams, apud SILVA e SOARES, 2025, p.137)

 

Ainda segunda a disciplina de Teologia e Prática Pastoral:

A partir dessas duas ideias básicas, responsabilidade e confrontação, Adams criou o que chama de Aconselhamento Noutético. A palavra ‘noutético’ é uma transliteração de um verbo grego que significa ‘admoestar’, ‘exortar’ e ‘ensinar’. (Adams, apud SILVA e SOARES, 2025, p. 137)

 

A palavra ‘nouthétesis’ focaliza aquele que faz a confrontação e aquele que a sofre. A noutétese pressupõe, especificamente, a necessidade de que se verifique mudança na pessoa confrontada, a qual; pode opor ou não alguma resistência. Num ou noutro caso, há algum problema em sua vida, problema esse que requer solução. Por conseguinte, a confrontação noutética sugere, necessariamente, entes de tudo, que há algo de errado com o indivíduo que precisa ser nouteticamente confrontado. A ideia de alguma coisa errada, algum pecado, alguma obstrução, algum problema, alguma dificuldade, alguma necessidade que precise ser reconhecida e tratada, é uma ideia fundamental. (Adams, apud SILVA e SOARES, 2025, p. 138)

 

A “confrontação noutética” é o método pelo qual o conselheiro, usando a Bíblia, admoesta, exorta e ensina o aconselhado a mudar seu comportamento, partindo do pressuposto de que “há algo de errado com o indivíduo que precisa ser nouteticamente confrontado”.

No entanto, essa abordagem diretiva pode gerar sérios problemas. O primeiro é a dependência do aconselhado. Ao receber conselhos e orientações diretas, o indivíduo é privado de desenvolver a própria capacidade de lidar com seus desafios. Ele se torna dependente do conselheiro para tomar decisões, não adquirindo a maturidade emocional e espiritual necessária para caminhar por conta própria. A ênfase na solução pronta, oferecida pelo pastor ou conselheiro, impede que o aconselhado explore seus recursos internos e fortaleça sua autoconfiança.

Outro problema é o bloqueio da comunicação e do crescimento. O método diretivo tende a colocar o conselheiro em uma posição de autoridade inquestionável, o que pode sufocar a expressão genuína do aconselhado.

Em contraste, Carl Rogers defendia que a ajuda se baseia na capacidade do “cliente” de encontrar suas próprias soluções em um ambiente de aceitação e compreensão. Segundo ele, o terapeuta deve criar um ambiente caloroso, positivo e de aceitação, onde o cliente se sinta seguro para expressar seus sentimentos de medo, confusão, raiva ou amor, sem julgamento. Rogers argumenta que, quando os canais de comunicação são eficazes e não-diretivos, o aconselhado percebe que suas experiências, antes vistas como particulares, “também são vividas por outras pessoas”. Essa descoberta universalizante é fundamental para o crescimento, algo que a confrontação direta dificilmente alcançaria.

 

Quando o terapeuta está experimentando uma atitude calorosa, positiva e de aceitação para com aquilo que está no seu cliente, isso facilita a mudança. Isso implica que o terapeuta esteja realmente pronto a aceitar o cliente, seja o que for que esteja sentindo no momento – medo, confusão desgosto, orgulho, cólera, ódio, amor, coragem, admiração. Isso quer dizer que o terapeuta se preocupa com o seu cliente de forma não possessiva, que o aprecia mais na sua totalidade do que de uma forma condicional, que não se contenta em aceitar simplesmente seu cliente quando este segue determinados caminhos e com desaprová-lo quando segue outros. Trata-se de um sentimento positivo que se exterioriza sem reservas e sem apreciações. (Rogers, apud SILVA e SOARES, 2025, p. 183)

 

Ainda segundo a disciplina de Teologia e Prática Pastoral:

Rogers afirma que promover canais de comunicação eficazes ao aconselhando, permitindo que o aconselhado possa expor o que sente, pode fazê-lo perceber que suas experiências não são tão particulares assim, que também são vividas por outras pessoas, que seus sentimentos, preocupações e dificuldades encontram eco na vida de outros indivíduos semelhantes a ele. (SILVA e SOARES, 2025, p. 184, grifo meu)

 

Por fim, o aconselhamento diretivo carrega um grande risco de manipulação e julgamento. O conselheiro, ao impor sua própria interpretação da Bíblia e seus valores morais, pode fazer com que o aconselhado confunda a opinião humana com a vontade divina. Isso gera culpa e medo, em vez de liberdade e cura genuína. A abordagem noutética, com sua ênfase em que há “algo de errado” com a pessoa, pode facilmente descambar para o moralismo, que é a antítese do evangelho. O evangelho, na sua essência, é a mensagem de graça e perdão, não de condenação e conformidade mecânica. Ao invés de ser um instrumento para libertar o indivíduo, a confrontação, quando usada de forma rígida, pode se tornar uma ferramenta para aprisioná-lo em um ciclo de culpa e inadequação.

Embora Adams tenha a intenção louvável de basear o aconselhamento na Bíblia, seu método diretivo, com sua ênfase na confrontação, pode inadvertidamente prejudicar o processo. A perspectiva de Rogers, mesmo vindo de um contexto secular, oferece uma base para a prática pastoral que, com empatia, aceitação e uma postura não-diretiva, pode criar um ambiente de confiança onde a graça de Deus se manifeste de forma mais poderosa, permitindo a cura e o crescimento integral do ser humano.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tensão entre o método diretivo e o não-diretivo no aconselhamento pastoral nos força a refletir sobre a essência do nosso papel como pastores, ou conselheiros. Embora a intenção de Jay Adams de basear o aconselhamento na Bíblia seja louvável, seu método diretivo pode inadvertidamente prejudicar o processo, criando dependência, bloqueando a comunicação e gerando julgamento. A perspectiva de Carl R. Rogers, ao enfatizar a empatia, a aceitação e o potencial de crescimento do indivíduo, oferece um modelo que, embora não seja intrinsecamente bíblico, pode ser uma ferramenta poderosa para a prática pastoral. Ao integrar as verdades da fé com a sabedoria da ciência, os pastores podem criar um ambiente de confiança onde a graça de Deus se manifeste de forma mais poderosa, permitindo a cura e o crescimento integral do ser humano. A cura completa, que abrange corpo, mente e espírito, é um dom de Deus, e Ele pode usar diversos caminhos para nos restaurar.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA, Marcos Nunes da. SOARES, Esny Cerene. Unidade 5. Módulo 4. Teologia e Prática Pastoral I — São Paulo: FATIPI, 2025.

SILVA, Marcos Nunes da. SOARES, Esny Cerene. Unidade 5. Módulo 5. Teologia e Prática Pastoral I — São Paulo: FATIPI, 2025.

Clique aqui para baixar a íntegra do trabalho acadêmico (clique aqui)

 

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