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Autor
Silvio Côrtes
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Silvio Côrtes

Convicto feito um traidor!

Publicado em: 27/04/2025 às 02:16

Última atualização: 27/04/2025 às 02:16

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Reinterpretar a figura de Judas Iscariotes, sugerindo que ele não teria traído Jesus por malícia, mas por obediência a um suposto pedido do Senhor é uma tentativa antiga. Essa visão, baseada em textos apócrifos e em teorias psicológicas, busca humanizar Judas (algo que de fato ele sempre foi e talvez essa seja a garantia de sua culpa), apresentando-o como uma vítima de equívoco ou até mesmo como um discípulo que agiu por convicção. No entanto, essa abordagem contradiz o ensino claro das Escrituras e os princípios da teologia reformada, que afirmam a soberania de Deus, a depravação humana e a autoridade exclusiva da Bíblia.

Óleo sobre madeira 137x117cm: O Beijo de Judas, autor Simão Rodrigues – C. 1560-1629. Origem: Cabral Moncada Leilões – Leilão 204 (Antiguidades e Obras de Arte Moderna e Contemporânea). | Foto: Wikimedia / RickMorais.

Essa reinterpretação da figura de Judas recorre ao Evangelho de Judas, um texto gnóstico do século IV que nunca foi considerado parte do cânon sagrado. A Igreja cristã, desde os primeiros séculos, rejeitou esses escritos porquê: Não têm origem apostólica (ao contrário dos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, que foram escritos por testemunhas oculares ou seus discípulos diretos). Promovem heresias, como a ideia de que Jesus não teria um corpo físico (docetismo) ou que Ele teria ensinado segredos ocultos a um seleto grupo (gnosticismo). Foram escritos muito depois dos eventos, sem conexão histórica confiável com a vida de Cristo.

A Confissão de Fé de Westminster deixa claro que apenas os 66 livros da Bíblia são inspirados e autoritativos. Portanto, qualquer teoria que dependa de textos apócrifos para reinterpretar Judas ou qualquer outro personagem, fato histórico ou doutrina, carece de fundamento sólido.

Judas Agiu por maldade, não por obediência, ele foi movido por ganância e coração endurecido:

Jesus disse: “Não vos escolhi eu os doze? Contudo, um de vós é um diabo.”” João 6:70

Judas não foi um discípulo leal que se confundiu, mas alguém que roubava do dinheiro dos apóstolos (João 12:6) e que, no fim, entregou Jesus por trinta moedas de prata (Mateus 26:15).

Lucas 22:3 diz que “Satanás entrou em Judas“, mas isso não o torna uma vítima. Pelo contrário, mostra que ele se abriu ao pecado até ser dominado por ele. Judas rejeitou repetidamente a graça de Cristo, endurecendo seu coração.

Sim, Deus usou a traição de Judas para cumprir Seu plano, sem anular sua culpa, Atos 2:23 afirma:

Este homem [Jesus] foi entregue por propósito determinado e pré-conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de homens perversos, o mataram.

Deus, em Sua soberania, ordenou a traição como parte do plano redentor, mas isso não isenta Judas de sua responsabilidade. Assim como José disse a seus irmãos: “Vós intentastes o mal contra mim, porém Deus o tornou em bem” (Gênesis 50:20), a maldade de Judas foi real, mesmo que Deus a tenha usado para a salvação dos eleitos.

O Remorso de Judas não foi arrependimento genuíno. Judas sentiu culpa, mas não arrependimento para salvação.

Quando Judas, que o havia traído, viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso e devolveu aos chefes dos sacerdotes e aos líderes religiosos as trinta moedas de prata.
E disse: “Pequei, pois traí sangue inocente”. E eles retrucaram: “Que nos importa? A responsabilidade é sua”.
Então Judas jogou o dinheiro dentro do templo, saindo, foi e enforcou-se.” Mateus 27:3-5

O verdadeiro arrependimento leva a Cristo segundo 2 Coríntios 7:10, mas Judas escolheu o desespero e o suicídio.

Vejam o que esta tristeza segundo Deus produziu em vocês: que dedicação, que desculpas, que indignação, que temor, que saudade, que preocupação, que desejo de ver a justiça feita! Em tudo vocês se mostraram inocentes a esse respeito.” 2 Coríntios 7:10

Jesus já havia dito que Judas era “filho da perdição” (João 17:12), mostrando que seu destino era a condenação.

 

Enquanto estava com eles, eu os protegi e os guardei pelo nome que me deste. Nenhum deles se perdeu, a não ser aquele que estava destinado à perdição, para que se cumprisse a Escritura.” João 17:12 (NVI)

Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.” João 17:12 (ACF)

 

Existe um grande perigo em relativizar o bem e o mal.

Usar a história de Judas para advertir contra “certezas absolutas” na fé e na política; embora seja verdade que os cristãos não devem confundir ideologias humanas com a vontade de Deus, é no mínimo, recorrer ao relativismo moral, e a Bíblia não admite tal conceito.

Jesus chamou Judas de “Diabo“, deixando claro que sua traição foi um ato maligno.

Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um Diabo.” João 6:70

As Escrituras condenam a traição (Salmo 55:12-14) e a hipocrisia (Mateus 23:27-28).

A teologia reformada sustenta que Deus revelou verdades objetivas, e os cristãos devem discerni-las com humildade, mas sem hesitação (2 Timóteo 3:16-17).

A lição que eu levo nisso tudo não é “evitar convicções“, mas submeter à Palavra de Deus todas as nossas convicções, evitando o partidarismo religioso e a “religiogização” da coisa secular.

Sacralizar o profano não converte o pecador. Adotar salvadores humanos não é resposta de Deus a orações de fariseus. Gerar “mitos” e “pais” em figuras públicas não ratifica a vontade de Deus. Apenas separa os santos e une os perdidos em torno do profano.

A tentativa de reescrever a história de Judas falha porque, despreza a autoridade da Bíblia em favor de textos gnósticos rejeitados pela Igreja. Ignora a maldade deliberada de Judas, atribuindo sua traição a um suposto mal-entendido. Distorce a doutrina da soberania de Deus, como se Judas não fosse responsável por seus atos. Abre caminho para o relativismo, enfraquecendo a distinção bíblica entre bem e mal.

Judas foi um traidor, e sua história serve como alerta contra a dureza de coração e a apostasia. Que os cristãos permaneçam firmes na verdade das Escrituras, rejeitando reinterpretações que minimizam o pecado e a justiça de Deus.

 

Sobre o texto do sociólogo, pastor e professor da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente (Fatipi),Valdinei Ferreira, que gerou tanto alarde nos últimos dias, fica a pergunta: – Quem nunca foi traído por Jesus?

O Jesus que as escrituras apresentam traiu e continua traindo toda e qualquer expectativa pessoal humana. Destruindo sonhos pessoais, derrubando perspectivas humanas de grandeza, de fama, de riqueza, de status…

Quantas vezes você olhou para o céu e perguntou: – Por que comigo? Por que não cura meu filho? Por que eu não consigo uma promoção? Por que meu amigo está ganhando muito dinheiro e eu não?

Será que nunca surgiu no meu e no seu coração o sentimento de que Ele está injusto? Será que jamais você vislumbrou o sentimento de que “Ele não cumpriu o combinado”?

Judas tinha uma expectativa que foi destruída por Jesus, e o artigo tão polêmico trata de transformar essa emoção em uma “metáfora” do sentimento. Sim, o mesmo sentimento que eu e você sempre temos quando oramos e temos a certeza de que tudo vai acontecer conforme o planejado, mas, Jesus trata de fazer do jeito Dele.

– Seja honesto, você odeia quando sai do seu controle. Nós esperneamos quando não é conforme planejamos, pois, machuca nosso ego, rasga nosso brio e nos traz a sensação de que não somos “tão importantes” no céu quanto pensávamos.

Talvez, a ferocidade quando ao conteúdo do artigo, nem tenha sido por conta da mensagem. Talvez seja contra o mensageiro.

Ao que parece, muitos nem sequer leram o texto. Tiraram conclusões objurgatórias com base em um título, propositalmente provocativo.

O Jesus das escrituras, quase sempre quebra nossa expectativa, assim como fez com Judas.

Em 13 anos de ministério, tenho percebido que a provocação é uma das mais poderosas armas para tocar o coração perdido.

As próprias escrituras me apontam um Jesus extremamente provocador, que gerou discípulos provocadores, e com essa metodologia, têm salvado pessoas há mais de dois milênios.

A religião não provoca. A religião invoca. Suas leis, tradições, convicções. A graça abraça, ama, assiste, conduz ao Cristo.

– Convenhamos, a provocação atrai a atenção, não é mesmo?

Como opinião, trago a ideia de que o argumento não foi tão ofensivo ao evangelho, quanto a intenção foi aos “evangélicos”, e, embora, não corrobore da proposta de Leloup, entendo que o contraditório é o combustível que move a alma e a reflexão.

 

Jesus continua traindo nossas expectativas para essa terra, a fim, de garantir que Suas expectativas eternas para nós venham a cabo.

Judas, era “humano, demasiadamente humano”, e sua resposta à quebra de expectativa por parte do Mestre resultou não apenas em sua morte, mas, em dois milênios de discussão a respeito de seu comportamento e de seu destino.

Eu e você somos tão maus, culpados e traidores quanto Judas (só não estamos registrados na história). Mas, porque não analisarmos a questão humana de Judas, livres de religiosidade, do fundamentalismo, da santarrice… Que tal vermos Judas como um homem igual a mim e a você, sujeito às mesmas emoções que experimentamos hoje?

Talvez a lente da religião impeça alguns de nós de sermos livres para pensar e tecer alguns contraditórios… Mas a lente da cruz? – Ah, essa nos abre a visão para o infinito de Deus, sem restrições impostas por medo.

A cruz não trouxe uma nova lei, mas, a graça, e desse ponto partimos para compreensão de uma revelação limitada, velada na Antiga Aliança, para a plenitude do relacionamento com a Divindade, revelada, desvelada (de cima a baixo). Então, até que ponto um questionamento legítimo, pode ir até se tornar “pedra de tropeço”?

Não se engane: você é Adão; você é Jefté; você é Jonas; você é Sansão; você é Judas…

O que nos distingue de cada um desses homens, é a graça que nos transforma, muda nossa essência e gera vida onde havia morte.

A pergunta que fica, para mim e para você é: – O quanto temos descansado no Senhor, a cada vez que Ele simplesmente destrói as nossas expectativas? Afinal, é dessa decisão que depende, se em nossa lápide estará escrito: Foi e enforcou-se; ou; “combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé…

Soli Deo Gloria.

Silvio Côrtes
Um crente comum

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