A Revolução Econômica de Trump e o Impacto das Tarifas Americanas em Guerra tarifária com a China
Em 2 de abril de 2025, Donald Trump anunciou tarifas comerciais para 185 países, com alíquotas baseadas na reciprocidade. As tarifas, a partir de 9 de abril, incluem 25% sobre carros importados. Após a resposta da China, que impôs tarifas de 34% sobre produtos americanos, Trump aumentou as taxas sobre importações chinesas para até 125%. Essa escalada gerou pânico nos mercados e protestos na China, refletindo tensões na guerra comercial.
Encontro de Trump com o presidente chinês Xi Jinping na China no ano passado. | Foto: Thomas Peter – Pool/Getty Images
Como iniciou o “Tarifaço” de Trump e seus impactos?
No dia 2 de abril de 2025, o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma nova rodada de tarifas comerciais que afetará uma variedade de países. Durante um discurso na Casa Branca, ele apresentou um “tabelão” que detalha as tarifas a serem cobradas sobre as importações de diversos produtos.
Detalhes das Tarifas Anunciadas
Trump revelou que as tarifas variam conforme o país, sem uma alíquota única padronizada. Elas foram pensadas com base no princípio da reciprocidade, ou seja, países que cobram alíquotas altas dos EUA enfrentariam tarifas equivalentes, enquanto os americanos aplicam taxas irrisórias. A tentativa era de que as alíquotas se nivelassem em um patamar equilibrado. As tarifas entrariam em vigor no dia 9 de abril. As tarifas específicas anunciadas são as seguintes:
Trump anuncia tarifas recíprocas para 185 países; confira a lista | |||
Página 1: | |||
País | Tarifas cobradas dos EUA | Tarifas que os EUA vão cobrar | |
1 | Afeganistão | 49% | 10% |
2 | África do Sul | 60% | 30% |
5 | Angola | 63% | 32% |
4 | Andorra | 10% | 10% |
9 | Argélia | 59% | 30% |
10 | Argentina | 10% | 10% |
25 | Brasil | 10% | 10% |
31 | Camboja | 97% | 49% |
36 | China | 67% | 34% |
95 | Laos | 95% | 48% |
90 | Japão | 46% | 24% |
96 | Lesoto | 99% | 50% |
Acesse lista completa (clique aqui).
Além disso, todos os carros produzidos fora dos Estados Unidos terão uma tarifa de 25%, refletindo a intenção de proteger a indústria automobilística americana.
A Reação de Trump
Durante o anúncio, Trump destacou que este é um “dia histórico” em que os Estados Unidos deixariam de perder em suas relações comerciais. Ele se referiu às tarifas como uma forma de “rendição econômica” e prometeu que os Estados Unidos seriam “espertos e inteligentes novamente”, enfatizando a importância de restaurar a competitividade americana.
As Mudanças de Trump nas Tarifas de Importação
Taxa Elevada para as Importações Chinesas
Desde que retornou ao poder em janeiro de 2025, Trump já havia anunciado duas parcelas de 10% de taxas adicionais sobre todas as importações chinesas, o que a Casa Branca disse ser necessário para conter o fluxo de fentanil ilícito do país para os EUA. Somando-se a taxa de reciprocidade estabelecida pelo presidente Trump de 34% + 20%, na prática, isso significa que as tarifas a produtos chineses chegariam a 54%.
Em 4 de abril de 2025, a China anunciou a imposição de tarifas recíprocas de 34% sobre todas as importações dos Estados Unidos, com efeito a partir de 10 de abril. A Comissão de Tarifas do Conselho de Estado da China criticou a ação dos EUA, afirmando que a prática não está de acordo com as regras do comércio internacional e prejudica os direitos da China. Além das tarifas, a China também adicionou 11 empresas americanas à sua “lista de entidades não confiáveis” e iniciou investigações antidumping sobre tubos de raios X importados dos EUA e da Índia.
A Casa Branca escalou a guerra tarifaria contra a China e anunciou nesta terça-feira (8) uma nova tarifa de 50% em cima das taxas já impostas anteriormente ao país asiático. Com isso, os produtos chineses podem receber uma tarifa de até 104% para entrarem nos EUA. Karoline Leavitt, porta-voz do presidente Donald Trump, afirmou que a sobretaxa entra em vigor a partir da 0h01 (1h01 em Brasília) desta quarta-feira (9), mas o republicano acredita que Pequim quer fazer um acordo. Segundo ela, “se a China se manifestar, ele [Trump] será cordial, mas vai fazer o que for melhor ao povo americano“.
Por sua vez a China não quis deixar barato e anunciou nesta quarta-feira (9), que irá impor uma nova tarifa de 84% sobre os produtos importados dos Estados Unidos a partir desta quinta-feira (10). O anúncio é uma promessa feita por Pequim em resposta aos EUA após o presidente Donald Trump aumentar as tarifas sobre a importação de produtos chineses, incluindo uma taxa de 104%. Em coletiva de imprensa nesta quarta (9), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, também posicionou o país asiático contra as medidas dos Estados Unidos. Jian afirmou que “o direito legítimo do povo chinês ao desenvolvimento não pode ser privado, e a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento da China não devem ser violados. Continuaremos a tomar medidas firmes e resolutas para salvaguardar nossos direitos e interesses legítimos”.
Mudança Tática e Flexibilidade
As tarifas de importação de Donald Trump estiveram em vigor por apenas quinze horas, mas esse curto período foi suficiente para gerar um tumulto nos mercados financeiros globalmente. Os mercados financeiros entraram em pânico, a Europa viu tudo ficar vermelho, e os índices americanos despencaram. No entanto, o presidente americano reverteu sua decisão ainda nessa quarta-feira (9). Essa mudança foi surpreendente. Trump optou por suspender a aplicação das medidas comerciais por 90 dias, com uma exceção: as importações chinesas agora terão uma tarifa de 125%. Com isso, a China acaba arcando com o maior custo da guerra comercial que o presidente almejava.
Trump explicou que sua mudança de postura foi uma estratégia deliberada, enfatizando a necessidade de flexibilidade nas políticas econômicas. Ele observou que a instabilidade do mercado de títulos americanos, que eram considerados valores refúgio, estava gerando nervosismo entre os investidores. O aumento nas taxas de juros poderia aumentar o custo do crédito para o governo dos EUA, que já enfrenta uma dívida federal estimada em US$ 36 trilhões.
Tarifas Americanas Provocam Crise Social e Econômica na China
As tarifas de três dígitos impostas pelos Estados Unidos geraram um terremoto social e econômico sem precedentes dentro da China. Com novas taxas que chegam a impressionantes 125% sobre produtos chineses, o cenário industrial no país se tornou crítico. Fábricas inteiras estão paralisando, cadeias de exportação estão colapsando, e protestos começam a se espalhar entre a classe trabalhadora.
Em Nanquim, trabalhadores da fábrica da Volkswagen, que opera na cidade há 16 anos, tomaram as ruas em protesto. A empresa, um símbolo da presença industrial estrangeira na China, enfrenta o risco de fechamento parcial em meio a uma queda vertiginosa nas exportações. Funcionários relataram não apenas demissões em massa, mas também maus-tratos e cortes salariais como parte de um “pacote de contenção” adotado após o impacto das tarifas.
A situação em Zhejiang é igualmente alarmante. O chefe da fábrica eletromecânica Taizhou Qiyue revelou que, embora a produção continue, as mercadorias estão encalhadas, sem possibilidade de escoamento. “Pequenas e médias empresas na guerra comercial; se formos sacrificados, todos devem se lembrar do nome da nossa empresa”, escreveu, expressando a frustração que permeia o setor.
Empresários chineses estão buscando desesperadamente rotas alternativas para minimizar os danos. Uma fábrica de agentes antiespumantes em Guangdong estuda reexportar seus produtos via Vietnã, enquanto um fabricante de brinquedos em Zhejiang viu seus pedidos dos EUA despencarem de 300 mil para apenas 20 mil unidades em um trimestre — uma redução alarmante de quase 95%.
He Yongqian, porta-voz do Ministério do Comércio, declarou que “as tarifas impostas pelos EUA não afetam apenas a balança comercial — elas ameaçam diretamente a estabilidade social e o emprego em diversos polos industriais da China”. A afirmação ressalta a gravidade da situação e a possibilidade de consequências sociais profundas.
“A China resistirá até o fim. Mas que não se enganem: uma guerra comercial tem consequências reais”, advertiu He, enfatizando a determinação do país em lidar com os desafios impostos pelas tarifas americanas.
O Bilionário Chamath Palihapitiya tenta explicar o “Tarifaço” de Donald Trump
Nesta terça-feira (8) em entrevista, o investidor bilionário Chamath Palihapitiya com Andrew Schulz se tornou viral, revelando uma perspectiva intrigante sobre as tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump. Chamath argumenta que essas tarifas vão muito além de uma simples guerra comercial; elas representam uma tentativa ambiciosa de redistribuir a riqueza americana e reconstruir a capacidade industrial dos Estados Unidos. “Não se trata de uma guerra comercial. Trata-se de reconstruir completamente a capacidade industrial americana”, afirmou ele, destacando que a perda de mais de 5 milhões de empregos na indústria desde 2000 é um sinal claro de que a relação comercial com a China estava fundamentalmente desequilibrada.
Chamath explica que as tarifas de Trump são uma estratégia em três camadas, que visa produtos de consumo básico, componentes industriais e tecnologias estratégicas, propondo um mecanismo de incentivo e punição para as empresas. As tarifas, que podem gerar até US$ 750 bilhões anualmente, poderiam ser usadas para compensar uma parte significativa do imposto de renda da classe média americana, enquanto incentivam a repatriação da produção. “Este é um mecanismo massivo de redistribuição de riqueza das corporações para a classe média”, ressalta.
Contudo, essas tarifas não impactam apenas os Estados Unidos. Desde o anúncio das novas taxas, que agora chegam a 125% sobre produtos chineses, a China tem enfrentado um terremoto social e econômico.
Chamath Palihapitiya vê um potencial realinhamento econômico global em resposta a essas tarifas. Ele sugere que, ao invés de isolamento, Trump está usando uma abordagem de alavancagem — criando um que chama de “OTAN econômica”, onde países alinhados aos interesses americanos ganham termos comerciais preferenciais. Isso, segundo ele, pode não apenas criar um renascimento da classe média nos EUA, mas também fortalecer a segurança nacional.
Entretanto, os desafios são substanciais. As tarifas podem resultar em violações da Organização Mundial do Comércio (OMC), inflação de curto prazo e interrupções nas cadeias de suprimento globais. Apesar disso, a visão de Chamath é de que, se bem-sucedido, esse movimento pode restabelecer um comércio global equilibrado e uma independência industrial que os EUA não experimentavam há décadas.
“O sistema que construímos ao longo de 30 anos esvaziou a classe média. Não foi uma guerra comercial, foi um massacre comercial”, conclui Chamath, destacando que a independência industrial pode proporcionar aos EUA uma vantagem geopolítica semelhante à que a independência energética já ofereceu. Assim, o que se observa é um momento potencialmente transformador tanto para os Estados Unidos quanto para a China, onde as consequências de uma abordagem econômica disruptiva estão apenas começando a se desenrolar.
Conclusão
Essas mudanças refletem a tentativa de Trump de equilibrar a pressão econômica interna e as relações comerciais externas. Enquanto busca proteger a economia americana, a situação permanece tensa, e a resposta da China pode prolongar a incerteza nos mercados globais. A flexibilidade demonstrada por Trump pode ser uma tentativa de estabilizar a economia dos EUA em um momento crítico, especialmente com as eleições se aproximando. A dinâmica das tarifas e a relação entre os EUA e a China continuarão a ser um tema central nas discussões econômicas globais.
Fontes:
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