Maduro prepara prisões para manifestantes após reeleição controversa. TSJ convoca candidatos para verificar votos, gerando suspeitas de parcialidade.
Nicolás Maduro anunciou que está preparando prisões de segurança máxima para manifestantes presos após sua controversa reeleição. Ele mencionou que as prisões de Tocorón e Tocuyito, anteriormente controladas por gangues, serão reformadas em 15 dias para receber esses detidos. Desde o início das manifestações, mais de 1.200 pessoas foram presas. Simultaneamente, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela convocou os candidatos presidenciais para uma verificação dos votos, levantando suspeitas sobre a imparcialidade do tribunal, uma vez que a decisão só avançou após solicitação de Maduro.
Complexo Penitenciário de Carabobo, Tocuyito. | Foto: Román Camacho / Los Andes
Em meio a uma crescente tensão política e questionamentos sobre a integridade do processo eleitoral, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela anunciou nesta sexta-feira (01), a convocação dos candidatos presidenciais para uma verificação dos votos. A medida visa trazer maior transparência e legitimidade ao resultado das eleições presidenciais realizadas em 28 de julho.
As eleições presidenciais na Venezuela têm sido marcadas por controvérsias, com acusações de fraudes e irregularidades por parte da oposição e da comunidade internacional. O Conselho Eleitoral Nacional (CNE), controlado por Nicolás Maduro, declarou Maduro como vencedor, mas a falta de publicação de dados desagregados e folhas de contagem de votos tem gerado desconfiança.
É muito suspeito que o TSJ atenda somente agora o pedido de verificação dos votos. María Corina Machado e Edmundo González Urrutia já haviam questionado os resultados e entrado com recurso no TSJ para a certificação das eleições presidenciais desde segunda-feira. No entanto, apenas nesta quinta-feira (01), após Maduro solicitar e/ou autorizar o recurso, o pedido teve andamento na Sala Eleitoral do TSJ. A presidente do TSJ, Caryslia Rodrigues, convocou os candidatos para iniciar “o processo de investigação e verificação para certificar de maneira irrestrita os resultados do processo eleitoral”, disse a presidente do TSJ.
“Esta Sala Eleitoral […] assume o compromisso com a paz, a democracia e a busca pela ordem constitucional […], garantindo que a vontade das eleitoras e eleitores receba uma efetiva e oportuna tutela judicial”, acrescentou.
Maduro, Gonzáles e outros oitos candidatos minoritários também foram convocados para a verificação dos votos. “Estarei lá, espero que todos os candidatos compareçam”, afirmou Maduro em um ato público. O comparecimento está marcado para esta sexta-feira, às 14h00 locais (15h00 em Brasília).
O CNE, proclamou Maduro reeleito para um terceiro mandato de seis anos, com 51% dos votos contra 44% de González Urrutia, que passou a representar a principal aliança opositora, Plataforma Unitária, após a inabilitação política da ex-deputada María Corina Machado.
A oposição afirma que possui cópias de mais de 80% das atas de urna e que González Urrutia somava 67% dos votos.
O The Carter Center, empresa contratada pelo governo de Maduro para auditar as eleições do dia 28 de julho, também não reconheceu o resultado oficial divulgado pelo CNE, dando vitória à Maduro. Em nota divulgada logo após deixar a jurisdição da Venezuela, e com seus funcionários em segurança, o instituto divulgou a seguinte nota: “A eleição presidencial de 2024 na Venezuela não atendeu aos padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”, diz nota no X o The Carter Center.
Venezuela’s 2024 presidential election did not meet international standards of electoral integrity and cannot be considered democratic.
Statement: https://t.co/STzUw7AZGf
Declaración: https://t.co/61O4IlApdW
— The Carter Center (@CarterCenter) July 31, 2024
Dezessete países integrantes da OEA, também não reconhecem Nicolás Maduro como vitorioso no pleito eleitoral de domingo. Argentina, Canadá, Chile, Costa Rica, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Guiana, Haiti, Jamaica, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname e Uruguai, votaram favoráveis por uma resolução contra a Venezuela, em sessão extraordinária na sede da organização em Washington – DC, nesta quarta-feira (31).
Nesta quinta-feira (01), os EUA, através do Secretário de Estado Antony J. Blinkern, reconheceram oficialmente a vitória de Edmundo González Urrutia nas eleições presidenciais da Venezuela realizadas em 28 de julho.
Na segunda-feira (29), protestos resultaram em pelo menos 11 mortes, de acordo com organizações de direitos humanos, enquanto a oposição estima que o número de mortos seja de 20. Em um artigo de opinião publicado nesta quinta-feira pelo Wall Street Journal, María Corina revelou estar escondida e temer pela própria vida e liberdade, após Nicolás Maduro pedir sua prisão e a de Edmundo González Urrutia.
“Vocês têm as mãos manchadas de sangue”, declarou na quarta-feira o governante chavista ao se referir a seus adversários. Maduro os acusa de promoverem um “golpe de Estado” com suas acusações de fraude. “Devem estar atrás das grades”, disse Nicolás Maduro.
O candidato da oposição Edmundo González Urrutia, a quem os Estados Unidos reconhecem como “vencedor” das eleições de domingo na Venezuela, disse manter-se “firme” após ameaças de prisão do presidente Nicolás Maduro.
“Sigo firme ao lado do povo”, publicou González Urrutia na rede social X. “Nunca os deixarei sozinhos e vou sempre defender sua vontade! Viva a Venezuela”, acrescentou em uma breve mensagem, sem dar detalhes se comparecerá a uma convocação do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) oficialista para uma investigação com o objetivo de “certificar” os resultados da votação que deram a vitória a Maduro.
Sigo firme al lado del pueblo.
¡Nunca los dejaré solos, y voy a defender siempre su voluntad!
Viva Venezuela.
Gloria al Bravo Pueblo.— Edmundo González (@EdmundoGU) August 2, 2024
Clima Tenso na Venezuela
Nesta quinta-feira, Nicolás Maduro anunciou que está preparando prisões de segurança máxima para abrigar manifestantes detidos durante os protestos que ocorreram após sua controversa reeleição.
“Estou preparando duas prisões que devo ter prontas em 15 dias, já estão sendo reparadas”, disse Maduro em um ato transmitido pelo canal estatal VTV.
“Todos os manifestantes vão para Tocorón e Tocuyito, presídios de segurança máxima”, acrescentou, em alusão a duas prisões que estiveram por anos sob controle de quadrilhas até serem ocupadas pelas forças de ordem no ano passado.
Mais de 1.200 pessoas foram detidas desde o início dos protestos, com Maduro alegando que essas pessoas foram treinadas no exterior e comparando os manifestantes a gangues criminosas.
“Temos mais de 1.200 capturados e estamos procurando mais 1.000 e vamos pegar todinhos porque eles foram treinados nos Estados Unidos, no Texas; na Colômbia, no Peru e no Chile”, disse o presidente, sob forte pressão internacional por mais transparência no escrutínio.
Maduro descreveu os manifestantes como “terroristas“, “delinquentes” e membros de “quadrilhas de nova geração“, comparando-os a gangues do Haiti e às “maras” centro-americanas. Ele afirmou que os manifestantes querem transformar a Venezuela em um novo Haiti e mencionou que haverá um processo de “reeducação” nos presídios onde serão encarcerados. Durante os protestos, houve confrontos que resultaram na derrubada de estátuas do ex-presidente Hugo Chávez, além de grandes painéis com o rosto de Maduro que foram removidos das avenidas do país.
Vídeo de Nicolás Maduro dizendo que enviará sequestrados para presídios de segurança máxima.#VenezuelaLibreDelDictador #VenezuelaLibredeDictadura #VenezuelaLibreYa #venezuela #VenezuelaLivre pic.twitter.com/W4uB75bzXD
— ANDERSON SILVA (@auandersonsilva) August 2, 2024
Vídeo de Nicolás Maduro dizendo que enviará sequestrados para presídios de segurança máxima.
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