Contrastes históricos e dilemas atuais dividem opiniões sobre justiça e democracia
A Avenida Paulista foi palco de uma manifestação em apoio à anistia, promovida por líderes da oposição e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. O evento destacou o contraste entre anistiados do regime militar e presos do 8 de janeiro, levantando questões sobre justiça e os beneficiários da anistia. O debate reflete um paradoxo entre passado e presente.
Manifestação na Avenida Paulista, segundo deputado Felipe Barros. | Foto: Divulgação deputado federal Felipe Barros (PL).
Neste domingo (6), a Avenida Paulista foi palco de uma manifestação massiva em apoio à anistia, reunindo centenas de pessoas que expressaram seu descontentamento com os resultados das eleições de 2022 e as consequências que se seguiram. O ato gerou um intenso debate nas redes sociais, onde números e fotos das manifestações pró e contra a anistia foram amplamente compartilhados, refletindo o sentimento dividido da população.
A manifestação contou com a promoção do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), lideranças da oposição no Congresso, como o deputado Luciano Zucco (PL-RS) e o senador Rogério Marinho (PL-RN), além do líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ). Também compareceram ao evento, governadores aliados do ex-presidente, como o Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, Mauro Mendes (União Brasil ), de Mato Grosso, e Wilson Lima (União), do Amazonas.
Segundo os organizadores, o ato contou com mais de 1 milhão de manifestantes, já segundo estimativa do Monitor do Debate Político no Meio Digital do Cebrap e da ONG More in Common, sob a coordenação de especialistas da Universidade de São Paulo (USP), foram apenas 44.9 mil manifestantes. A polícia militar de São Paulo não informou a estimativa de público presente.
A oposição tenta usar como símbolo no ato casos como o da cabeleireira Débora Rodrigues, que aguarda julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal). Ela usou um batom para pichar a estátua “A Justiça” com a frase “Perdeu, mané” no 8 de Janeiro. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, defende 14 anos de prisão mais multa.
Ao analisar os participantes da manifestação, uma comparação interessante surge entre os anistiados do regime militar da década de 1970 e os presos do dia 8 de janeiro, que se opuseram aos resultados eleitorais. Entre os anistiados da época, encontramos figuras como José Genoino e Fernando Gabeira, ambos envolvidos em ações radicais durante o período militar. Genoino, por exemplo, foi parte da guerrilha do Araguaia, enquanto Gabeira participou do sequestro do embaixador dos EUA. Também se destaca o nome de Dilma Rousseff, que integrou a organização armada Var Palmares, conhecida por seus atos de violência política.
Curiosamente, décadas depois, esses mesmos anistiados se tornaram figuras proeminentes na política brasileira e, em sua maioria, se manifestam contra a anistia para os presos do 8 de janeiro. Isso gera um contraste notável, visto que muitos deles, como Genoino e José Dirceu, foram condenados por corrupção no famoso escândalo do Mensalão.
No lado oposto do espectro, os presos do 8 de janeiro incluem pessoas comuns, como Débora Rodrigues, uma cabeleireira que se tornou emblemática ao pichar uma estátua com a frase “perdeu, mané”, bem como pipoqueiros e moradores de rua. Esses indivíduos representam um segmento da população que se sentiu injustiçado e protestou contra o que percebem como uma violação de seus direitos após as eleições.
Essa comparação levanta questões sobre a natureza da anistia e quem realmente se beneficia dela. Os anistiados do passado, que lutaram contra um regime opressor, agora se opõem à anistia para aqueles que, em suas percepções, desafiaram a ordem democrática. O paradoxo é evidente: os que um dia foram perseguidos se tornaram os defensores do status quo, enquanto novos grupos clamam por justiça e reconhecimento de suas lutas.
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