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Autor
Anderson Silva
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Anderson Silva

O Evangelho Inutilizado

Publicado em: 29/03/2025 às 20:33

Última atualização: 29/03/2025 às 23:49

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Por Que o Evangelho Está Sendo Silenciado? O Que a Marginalização do Evangelho Revela Sobre Nossa Democracia?

O evangelho tem perdido espaço na vida pública nas democracias, com a religião, especialmente o cristianismo, sendo afastada do cenário político sob o pretexto de garantir a laicidade do Estado. Essa exclusão compromete a liberdade religiosa e empobrece o debate público, marginalizando uma perspectiva moral relevante. Ao mesmo tempo, outras expressões religiosas recebem legitimidade. É crucial recuperar o espaço do evangelho para reafirmar os valores de igualdade e respeito que sustentam a democracia.


 

Homem segurando bíblia. | Foto: Freepik.

Nas últimas décadas, o evangelho tem perdido espaço na vida pública dentro das democracias. Essa tendência não é apenas nacional, mas também global. Sob o pretexto de garantir a laicidade do Estado e evitar discussões consideradas polêmicas — como o aborto e o uso de drogas —, a influência da religião, especialmente do cristianismo, tem sido afastada do cenário político. Para muitos políticos, essa justificativa pareceu uma solução prática e conveniente.

A construção da democracia moderna no Ocidente foi fortemente influenciada pelas ideias dos contratualistas John Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau. Apesar de possuírem perspectivas teóricas distintas, esses pensadores estabeleceram as bases da sociedade contemporânea. Hobbes acreditava que o homem é naturalmente mau e precisa de um governo forte para conter sua natureza beligerante. Locke, por outro lado, via o homem como bom, mas necessitado de instituições que garantam seus direitos naturais, como a vida, a liberdade e a propriedade. Já Rousseau defendia que o homem é naturalmente bom, mas corrompido pelas estruturas sociais. Curiosamente, mesmo em suas diferenças, as ideias desses teóricos possuíam influências religiosas, que ajudaram a moldar a moral e os valores das sociedades ocidentais.

No entanto, observa-se atualmente uma tentativa de afastar o pensamento religioso dos debates políticos sob a justificativa de que ele seria prejudicial ao desenvolvimento daqueles que não professam nenhuma fé. Na prática, porém, a exclusão parece direcionada especialmente ao cristianismo. Enquanto símbolos cristãos, como crucifixos, são retirados de espaços públicos como escolas e câmaras legislativas, observa-se uma postura contraditória em outras situações. Por exemplo, a Portaria 715 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), publicada em julho de 2023, reconhece terreiros e templos de religiões afro-brasileiras como espaços essenciais de acolhimento e cura. Simultaneamente, tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação, que teve o julgamento iniciado em novembro de 2024, que busca retirar símbolos religiosos, como crucifixos e imagens de prédios públicos, sob a alegação de que sua presença compromete a laicidade estatal. Esse contraste evidencia um tratamento desigual, onde apenas o cristianismo parece ser visto como um problema.

Esse contexto sugere uma tentativa de relegar o evangelho a um papel irrelevante, forçando os cristãos a professarem sua fé em silêncio, sem incomodar o Estado com seus valores e dogmas. A marginalização da mensagem do evangelho representa não apenas um ataque à liberdade religiosa, mas também um empobrecimento do debate público, que perde uma perspectiva moral relevante para questões fundamentais.

A legitimação de outras expressões religiosas também ilustra essa disparidade. Por exemplo, após os atentados cometidos pelo grupo terrorista Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, muitos governantes e acadêmicos continuaram a defender a legitimidade de certas práticas e discursos associados ao Islã político religioso. Tais ações provocaram a morte de mais de 1.200 israelenses, mas ainda assim, a legitimidade e o respeito a essas tradições foram mantidos em muitos discursos públicos. Essa postura contrasta fortemente com o tratamento reservado ao cristianismo, frequentemente deslegitimado nas esferas públicas.

A exclusão do evangelho dos debates públicos não apenas compromete a liberdade religiosa, mas também desvaloriza a herança moral e ética que ajudou a moldar a democracia ocidental. Em uma sociedade verdadeiramente democrática, todas as vozes, religiosas ou seculares, devem ter espaço para contribuir com suas perspectivas. O cristianismo, como parte integrante da identidade cultural do Ocidente, não deve ser silenciado. Recuperar o espaço do evangelho no debate público é uma forma de reafirmar os valores de igualdade, liberdade e respeito mútuo que são pilares fundamentais de uma democracia saudável.

Em suma: — Ou o cristianismo anunciará ao espaço público, ou o espaço público regirá o cristianismo.

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